VISUALIZAÇÕES

domingo, 2 de janeiro de 2011

Id Est






Sentada. Na cama. Pés no chão. Meias, pijama, lençol. A mão esquerda segurava um papel ainda pálido. A outra empunhava uma esferográfica louca para ser funcional. As paredes brancas do quarto preenchiam espaços. O sono a atingia paulatinamente. Travesseiro à vista, mas, diante da sua resistência, permanecia: coluna ereta, punho erguido, cabeça em pensamentos que não queriam se fazer palavras. Não sabia mais escrever o que sentia. As palavras confundiam-se, conjunções nada articulavam e o que ela sentia permanecia apenas dela, particular, hermético, indecifrável. A ponta da língua pesava de tantas palavras quase lembradas. À sua frente um espelho se mostrava. Grande em largura e comprimento. Naquele momento, para ela, em profundidade também. Havaianas, cômoda, guarda-roupas... tudo a olhava. Um frio a incomodou apesar de gostar do inverno. Olhou para o criado-mudo, sobre ele colocou o papel. Abria e fechava a gaveta reincidentemente, guardou nela a caneta. Deitou na cama. Mais uma noite sem paixões nem inspiração a tomara. Quiçá, amanhã. Quem sabe depois... ... ...

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