Não venho aqui falar do ser-em-si de Heidegger tampouco
discutir os conceitos de liberdade sartreanos. Hoje não estou a fim dessas
profundidades todas. Hoje sou superfície, epiderme. Que nada de subcutâneo me
contamine. Cansei de tormentas e susto. Hoje quero a mansidão do não pensar. Em
vez de eu ir da Liberdade à Consciência, quero agora apenas ir da Consciência
que me perturba a Liberdade de não tê-la. Não desejo me desprender da filosofia
por hora por achá-la inútil, mas por vê-la tão útil. Neste momento, não quero
nada que externe utilidade: não quero a poesia, não quero linguagem, não quero o
saber. Queria mesmo ser aquela tabula rasa que um certo Locke defendia. Vou
escrever o “Ensaio acerca do desentendimento humano” que, como eu, não servirá
para absolutamente nada. Não me venham com versinhos de grandes poetas, a mim
pouco me importa “o engenho e a arte”. Definitivamente, deu-me uma vontade
imensa de queimar meus livros e os escritos principalmente. Não estou a fim de
ler ou conversar sobre nada. Acho que ligarei a TV nestante. Ela me ajudará
bastante. E, se não der certo, vou dormir. Tomara que nenhum sonho engraçadinho
venha com elucubrações. Hoje não estou nem para Dali nem para Rubens. Quero o
descanso, a paz que só a ignorância é capaz de dar. Entre a livraria e o parque,
prefiro o parque. Eu numa montanha russa só me importando em gritar e em descer
dali: mais nada! Não me venham com cappuccinos ou vinhos. Se querem me dar algo
que me dêem uma carabina... não! muito grande, uma semi-automática. Pronto. Meu
mundo por uma semi-automática. “Cogito, ergo sum”?... À merda, Descartes! Cogito
e morro. Fim. Romeu por favor... deixa um pouquinho para mim.... Ai meu Deus...
por que eu vim parar neste canto da sala?
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