VISUALIZAÇÕES

domingo, 6 de janeiro de 2008

(RE)ENCONTRO

Passei por ele para que me notasse: fui notada. E recebi o seu olhar como quem recebe flores. Vi o seu sorriso sincero e triste e suas mãos ainda pequenas, mas não tão leves como ontem: calos e não carícias, elas exprimiam, e, ao tocá-las, percebi o tempo que se infiltrou entre nós. Constrangimento e distância... é o que sobrara. Era Sábado. A manhã já havia como tantas outras manhãs de março... e nós, desiguais, estávamos um ante o outro, violentados por nossa presença, tolhidos de nossa espontaneidade. Cumprimentamo-nos decerto, se é que aquele atrapalhar-se pode ser considerado um cumprimento. Beijo, abraço: qual o comportamento devido? Por nossa situação, tínhamos que perder a força do hábito, e nossos corpos – outrora de tantos contatos e poucas censuras – tinham que se manter afastados por mais que estivessem dispostos ao prazer. Inclinados um para o outro cessamos o movimento de nosso corpo. Ele sorriu mais intensamente nestora, timidez e embaraço. Sorri também embaraçada. Não sabíamos o que fazer: demo-nos as mãos, um aberto de mão demorado e sofrido, e, acanhados, sorríamos como quem tem muito a dizer... (VASCONCELLOS, Nívia Maria. ... para não suicidar. Feira de Santana: Littera, 2006)

3 comentários:

Anônimo disse...

Nívia, teus contos são muito poéticos, tocantes... parabéns! E aí tá uma prova de que não existe a tal pureza de gênero! Um abraço.

PROJETO MÚSICA NO SEBO disse...

olá! veja nossos blogs
dangrito.zip.net do nosso zine
e
auto-mutilacao.zip.net
este segundo de poesias
obrigado

Anônimo disse...

Putz, esse texto aí diz "muita coisa"... adorei!Parabéns.