VISUALIZAÇÕES

domingo, 23 de março de 2008

ILDÁSIO TAVARES










Soneto da posse


Amar é possuir. Não mais que o gozo

quero. Não sei porque desejas tanto

escravizar-me; escravizar-te. Quanto

menos me tens, mais me terás. Gostoso

é ser-me livre, alegre, escandaloso –

o peito aberto pra cantar meu canto;

os olhos claros pra ver todo encanto;

as mãos aladas, pássaros sem pouso.

Abre-me o corpo, vem dá-me o teu vale,

e a esconsa flor que ocultas hesitante,

pois o que falo o falo sem que fale

em tom de amor. Quero vaivem, espasmo -

um corpo a corpo num só corpo palpitante,

dois no galope até o sol de um só orgasmo.


LANÇAMENTO DO CD "FLORES DO CAOS"

“A poesia é uma maneira de dizer a verdade em belos sons, agradáveis para os ouvidos. É a vivência dessa sonoridade”, diz o poeta e letrista Ildásio Tavares, que, este ano, completa 40 anos da publicação de seu primeiro livro, Somente um canto (1968). A comemoração vem a contento, com o lançamento quarta, às 18h30, no Museu de Arte Sacra (Dois de Julho), do CD As flores do caos, segundo volume da série Voz e Poesia, da Fundação Gregório de Mattos. É o próprio Ildásio quem interpreta seus escritos, com intervenção sonora do DJ Mauro Telefunksoul, o que resultou numa obra que busca a originalidade.
A gravação reúne poemas inéditos e já publicados de Ildásio, agrupados em um conjunto que faz referência a Charles Baudelaire (1821-1867), que em 1857 lançou As flores do mal, marco da poesia moderna. “Um dos trabalhos do poeta e do artista é descobrir a beleza onde aparentemente ela não existe, é pôr ordem no caos”, define. E o caos, para o escritor, tem um tempo localizado. “No século XX, estão concentradas algumas das maiores barbaridades que a humanidade já presenciou, das duas guerras mundiais aos grandes genocídios. Nasci, cresci e amadureci nessa turbulência”.

sexta-feira, 21 de março de 2008

... para não suicidar


Num trajeto qualquer

A chuva apressava os passos daqueles que queriam abrigo, os ônibus eram o destino da maioria desses pés ligeiros. Molhados, munidos de pastas e guarda-chuvas passageiros se espremiam à porta do transporte, o qual, pelo ronco do motor, ameaçava romper o asfalto. Empurrões, cotoveladas e o ônibus ia lotando à medida que todos se acomodavam sentados ou em pé numa rotina humilhante que por ser rotina deixou de ser... humilhante ou, pelo menos, não era percebida assim. Acostuma-se a tudo, o homem, penso com piedade e desdém.
Nem as sinuosas curvas faziam esse “passeio” emocionante... gritos já eram previstos e cansaços eram sentidos por cada corpo que, lançado de um lado ao outro, parecia não ter vontade própria... não, realmente, não tinham vontade própria nenhum daqueles que habitavam tal condução. E as janelas do ônibus apresentavam paisagens já vistas, um panorama já memorizado por todos que, há muito, já lhe eram indiferentes.
A casa tal, a loja tal, a rua tal, o bairro tal... tal era a repetição de imagens que a monotonia tomava conta de todo o veículo. Invariabilidade, constância que para os passageiros eram tédios cotidianos. Nem freios bruscos, aos quais, de alguma forma, seu corpo já havia se habituado, eram capazes de transgredir esse enfado. Até as batidas não assustavam mais a ninguém, faziam parte da normalidade das coisas. Atemorizar-se com isso... besteira!
Todas espécies de gentes que no ônibus estavam eram como uma só: condensada, comprimida. Descer dele era um eterno ultrapassar de obstáculos humanos, expor-se, destacar-se da massa homogeneizada, bradar pelo seu ponto o qual nem sempre era respeitado. A chuva cessou, menos no ônibus que parecia um mar de águas acumuladas. Lamas e pés confundiam-se. Não dava para separar o que era suor do que eram resquícios da chuva. Agonia, tormento, exaustão. O dia continuava a acabar no tempo perdido dentro daquele ônibus. Ninguém vive 24 horas por dia, muito menos os que se vêem obrigados a tomar lotações.
Olhares se estendiam para além das vidraças, encarnavam nos carros que um dia vislumbravam possuir. Cobiça, inveja... simples desejo, compreensível desejo. Semanas e meses se passavam nessa contínua uniformidade. Chateação de viver como não se quer. Motoristas e cobradores eram máquinas teimosas de ações repetitivas, automáticas, inumanas... eles, mais que todos, sabiam o significado da palavra fadiga. A dor que sentiam nas costas virara um hábito, quando não doíam geravam surpresa, espanto, admiração. E ao descer do ônibus pareciam permanecer no ônibus. ...
O costume é mais forte que o homem.
(VASCONCELLOS, Nívia Maria.... para não suicidar. Ed. Littera: Feira de Santana, 2006.)

sábado, 8 de março de 2008

PEDRA RETORCIDA










Passeio interior

à Mônica Vargas, Iaromila.

A noite em agosto

não é mais aquela estreita e quieta

das ruas desconfiadas daquela infância.

Não há janelas seminuas

nem boa morte de segredos adulterados.


Parte de mim

um trem com destino ao sertão daquele rio

que já não me possui.


Outra parte me retalha

nesses paralelos de chão espalmados

que cortam em cruz

a Rua da Matriz

e a casa de nº 13.


Se tivermos sorte,

haverá tempo para o amanhecer.


moraes filho, João de. Pedra retorcida. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 2004.


quinta-feira, 6 de março de 2008

DIA DA POESIA

O Dia Nacional da Poesia, 14 de Março, não por acaso, coincide com a comemoração do nascimento do grande escritor baiano Castro Alves, autor de belíssimas obras, como “Navio Negreiro” e “Espumas Flutuantes”. Sua arte era movida pelo sentimento de amor e pela luta por liberdade e justiça.
Em Itabuna, por iniciativa do Poeta e Editor Gustavo Felicíssimo e com o apoio da Editora Via Litterarum, do Centro de Cultura Adonias Filho e da FICC (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania), essa data será marcada em 2008 por um grande evento aberto ao público e contará com a seguinte programação no dia 15, sábado:

OFICINA DE XILOGRAVURA – Facilitador: Gabriel Ferreira
Natural de Tanquinho-BA, Gabriel Ferreira desenha desde os três anos de idade, e tem em suas atividades artísticas, cuja maioria se vincula às artes plásticas, uma forma de expressão das características que absorveu em sua cidade de origem, muito ligadas às manifestações da cultura como um todo. Realiza exposições temáticas concomitantes a lançamentos de livros, participa de saraus, publica ilustrações em jornais e revistas, desenvolve oficinas de artes junto ao IMAQ - Instituto Maria Quitéria – Feira de Santana (Ponto de Cultura/Minc). Participou da Bienal do Recôncavo em 2006, da UNE Recife em 2004, Salões Regionais de Arte/Funceb em Feira de Santana-BA, Bienal do Livro SP, 2006, exposições individuais e coletivas no CUCA, MAC, MRA também em Feira. Participou da Bienal de Artes da Bahia, promovida pelo MAM. Publicou o livro de ilustrações de textos Esboços.
Trata-se duma oficina que desenvolvo junto a um Ponto de Cultura do MinC na região do Sisal na qual faço uso de materiais alternativos a madeira e a ferramentas próprias para entalhe. No caso a madeira é substituída por duratex e os formões por pregos, lâminas emprovisadas e goivas adaptadas de astes de guarda-chuva. A tinta utilizada é a de litografia, para impressão em papel de gramatura superior a 120g. Enfim, como disse, não precisa se preocupar com material.
Trata-se de uma oficina na qual é empregado o uso de materiais alternativos à madeira e às ferramentas para entalhe. A madeira é substituída por Duratex e os formões por pregos, lâminas e goivas adaptadas de hastes de guarda-chuva. A tinta utilizada é a de litografia, para impressão em papel de gramatura superior a 120g.
LOCAL: CENTRO DE CULTURA ADONIAS FILHO
Horário: 9 às 12 horas
INSCRIÇÃO: R$ 10,00

OFICINA DE LITERATURA DE CORDEL - Facilitador Jotacê Freitas:
Natural de Senhor do Bonfim, Ba, Jotacê Freitas é graduado em Pedagogia pela UNEB e é um dos mais requisitados palestrantes na área da Literatura de Cordel na Bahia, onde também exerce a função de arte-educador em Salvador.
Cordelista respeitado publicou dezenas de folhetos e venceu o Prêmio Nacional de Literatura de Cordel promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia com "Panvermina e Zabelê nas quebradas do Sertão", também foi colunista do tablóide literário SOPA e da revista POESIA & AFINS.

LOCAL: CENTRO DE CULTURA ADONIAS FILHO
Horário: 15 às 18 horas
INSCRIÇÃO: R$ 10,00

GRANDE SARAU COM LANÇAMENTO DE LIVROS
O grande sarau terá apresentação do Poeta e Editor Gustavo Felicíssimo e contará com a participação do grupo de declamação OS BOCAS DO INFERNO, de Feira de Santana. Também haverá a apresentação do Grupo Musical ARRANJOS (Bossa Nova), de Feira de Santana, do Cordelista Jotacê Freitas, de Senhor do Bonfim, do músico Itabunense Jaffet Ornelas e um bate papo sobre a vida e a obra de Castro Alves com Geraldo Maia, poeta Itabunense e maior expressão da chamada poesia marginal, na Bahia. O Sarau será aberto à participação do público.


ESTRUTURA DA PROGRAMAÇÃO DO SARAU

- Abertura com a apresentação de poemas de Valdelice Pinheiro
musicados por Jaffet Ornelas
- Apresentação do Grupo de Declamação OS BOCAS DO INFERNO
- Apresentação do Cordelista Jotacê Freitas
- Bate-papo sobre Castro Alves com o poeta Itabunense Geraldo Maia,
fundador do Movimento Poetas na Praça, representante maior da Poesia Marginal na Bahia.
- Lançamento de livros
- Volta o Grupo de Declamação OS BOCAS DO INFERNO
- Abertura para declamação dos poetas presentes
- Recital aberto à participação dos expectadores
- Fechamento com o grupo musical ARRANJOS

LOCAL: CENTRO DE CULTURA ADONIAS FILHO
Horário: das 20:00 horas em diante
Entrada: R$ 5,00


Inscrições abertas
Poderão ser efetuadas no Centro de Cultura Adonias Filho e no Quiosque Cultural, em frente ao Banco do Brasil.