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quarta-feira, 16 de abril de 2008

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ILDÁSIO TAVARES





Eu e o poeta Ildásio Tavares trocamos também algumas idéias numa noite soterapolitana regada à boa bebida, à boa comida e, especialmente, a bons papos. Deu-me uma vontade de compartilhar com vocês um pouco do que pensa e faz o poeta, letrista, contista, pós-doutor etc etc etc Ildásio Tavares. Fiz, então, a entrevista que abaixo se encontra. Degustem-na:

NÍVIA MARIA VASCONCELLOS - Elliot, no livro Essência da Poesia, apresenta-nos um capítulo destinado a discutir a Função Social da Poesia, como ele outros já levantaram questionamentos e esclarecimentos sobre esse assunto. Aqui no Brasil Carlos Felipe Moisés lançou um livro chamado Poesia e Utopia: A função social da poesia e do poeta. Para você, existe uma função social da poesia e do poeta? Se sim, qual seria?

IldÁsio - Esta questão tem enchido tratados, desde Horacio, docere cum delectatione, a poesia deve ensinar com deleite, até os esteticistas puros, para quem a poesia deve ser bela e pronto: até os surrealistas que mudam o conceito para a função de exprimir o inconsciente. Prefiro não falar em função da poesia e sim do poema, cuja função seria dizer o que se quer dizer com poucas palavras e muita densidade. A função do poema será a de ser um iceberg verbal, apenas 1/8 acima da superfície.

NMV - Seu primeiro livro, Somente um canto (1968), completa 40 anos este ano. Dentro dessas quatro décadas, o que mudou e permaneceu no seu fazer poético?

IldÁsio - Continua, um "ostinato rigore" como prescrevia Dante; uma busca incessante de síntese e perfeição, o poema como criação e depois depuração: um apuro métrico cada vez maior e rítmico maior ainda; um experimentalismo métrico e rítmico, acho que não mudei, aperfeiçoei o modelo de “Somente um Canto” que já mostra todos meus caminhos principais, decassílabo, redondilhas, versos livres. No que diz respeito a sensibilidade, eu apenas a apurei. As temáticas são recorrentes. Acho que, no fundo, não mudei nada. Me aprimorei, apenas.

NMV - Certa vez, afirmou que “Um dos trabalhos do poeta e do artista é descobrir a beleza onde aparentemente ela não existe, é pôr ordem no caos”. O que você define por beleza e por caos e qual a importância de um e outro para as artes em geral?

IldÁsio - Beleza em poesia é eufonia. Caos é a desordem, o disparate, o barulho, eles devem ser o material do poeta que lhe deves dar um sentido poético e não ser o espelho do barulho e da desordem, salvo quando haja um sentido estilístico.

NMV - Sempre há uma polêmica acerca das letras de músicas e das poesias. Você trabalha com os dois tipos de composição. Qual a sua postura diante dessa discussão?

IldÁsio - Pedro Lyra num famoso ensaio coloca oito diferenças entre letras e poemas que são diferentes, mas não guardam entre si hierarquia.Uma boa letra é melhor que um mau poema. A letra depende da melodia, do ritmo da melodia, e a letra tem que agradar de cara.O poema é independente e pode ser consumido devagar. A letra tem temática limitada o poema é livre. A letra se dirige a juventude, o poema a qualquer faixa etária. A letra é pra consumo imediato. O poema é duradouro.

NMV - Como você analisa a atual produção literária da Bahia e do Brasil? É otimista diante do quadro atual?

ILDÁSIO - Acho esta geração de vocês bem melhor do que a anterior onde não vejo um só poeta de nível. Eles são bons políticos, para entrarem em Academias, mas na hora de enfrentar o papel são muito ruinzinhos.

NMV - Estamos preparando um sarau em sua homenagem, momento no qual lançará seu Cd Flores do Caos aqui em Feira de Santana. Você tem até livros que fazem menção a esta cidade, como o livro de contos “O amor é um pássaro selvagem”, e já morou em Feira por vários anos. Qual a sua relação com Feira de Santana na atualidade?

ILDÁSIO - Fora vocês, Feira me esqueceu.

NMV - Deixe uma mensagem para aqueles que pretendem ingressar no mundo literário.

ILDÁSIO - Lasciate ogni speranza voi ch'entrate


Eu recebendo o autógrafo de Ildásio Tavares no dia 26/03/08, dia do lançamento do seu Cd Flores do Caos no Museu de Arte Sacra em SSA.

Aguardem o lançamento do CD Flores do Caos, em breve, em Feira de Santana ....





8 comentários:

Anônimo disse...

Gosto muito do Ildásio, assisti uma marcante conferência dele na UEFS, no VII CELL, em 2004. Que pena ele ter dito que Feira o esqueceu...

Escrevist@ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Nívia,
Percebeu a diferença entre letra e poesia? Tu não leu Pedro Lyra não minha filha? Como ousas burlar a perfeição das torias?
Ah se Pedro Lyra e Ildásio tivessem a oportunidade de conhecer o Soneto q não queria existir, mudariam de opinião. Porque não falou do teu soneto pra ele?ora,ora...Uma bela poesia que foi belamente musicada e que com certeza não será esquecida!!!!
Teorias, teorias....Meras teorias incapazes de abarcar a complexidade
da arte!!!!

Anônimo disse...

parabéns pela entrevista. sábio encontro de dois poetas de gerações distintas que sabem dialogar com inteligência e simpatia. um abraço,

Cleberton Santos

Anônimo disse...

Bonito blog!

Anônimo disse...

Nívia, eu levei um susto quando vi você com aqueles óculos. Bem que desconfiei que não fossem seus (KKK). Brincadeira!!! Você fica bem com qualquer coisa fofinha. Gostei muito da entrevista e de conhecer o poeta Ildásio Tavares. Obrigada por compartilhar conosco desse momento e parabéns pelo blog que é um show.

Um abraço,

Lana

O Concriz disse...

Achei a entrevista espetacular. Parabéns! Ildásio Tavares é, indiscutivelmente, um excelente poeta. E você soube fazer as perguntas certas para que pudéssemos sugar um pouco mais dessa fonte.


Abraços.

O Concriz disse...

Achei a entrevista espetacular. Parabéns! Ildásio Tavares é, indiscutivelmente, um excelente poeta. E você soube fazer as perguntas certas para que pudéssemos sugar um pouco mais dessa fonte.


Abraços.